Entre Economia e Saúde, nenhum!

Por Cristian Junior

Em 05/04/2021

Por Cristian Júnior

Vez ou outra volta pra sociedade civil alguém querendo operar uma espécie de racionalização do governo, onde não há racionalidade alguma. Temos inúmeros exemplos nesses dois anos. De políticos eleitos à comissionados. Foi assim com Mandetta, um dos primeiros. Saiu do Ministério vendendo livros e concedendo entrevistas em mídias do Brasil e fora.

Ora, agora me aparece esta médica, Ludhmila Hajjar. Orgulhosa de ter recusado um convite não oficial. Como se ser convidada ao Ministério da Saúde do governo de ninguém mais, ninguém menos, que Jair Bolsonaro, numa crise sem precedentes, significasse alguma coisa. Como se agregasse algo de valor ao currículo. Esses dois, e outros, contribuem para organizar uma narrativa em que o Governo aparece como mais preocupado com a Economia do que com a Saúde (diga-se, vida das pessoas). Conversa furada. Qual é a agenda econômica, o planejamento a curto, médio e longo prazo, do governo que até hoje ninguém explica? Nunca vi, eu só ouço falar…

Ludhmila Hajjar

Imagem: Correio Braziliense.

Pense comigo, caro leitor. Ok, todos nós vamos voltar para as ruas. Trabalhar sem parar, como defende o governo. Qual a atitude econômica que este iria aplicar? A gente vai, simplesmente, continuar trabalhando, continuar na pindaíba, continuar com recessão, continuar e continuar até que, por obra de um milagre, aconteça algo que mude radicalmente tudo?

Este tipo de discurso só contribui para reforçar, entre aqueles que estão do outro lado, ou ainda em cima do muro, que supostamente existe um planejamento econômico (ou mesmo de combate à pandemia) que é sempre inviabilizado. Pelo STF, pelos governadores e prefeitos, pela própria pandemia. Esse plano não existe! Ele não consta escrito em lugar nenhum, em documento algum; ele não pode ser aferido de nenhuma ação coordenada que a gente observa na realidade! Simplesmente porque as ações parecem ser sempre descoordenadas!

Luiz Henrique Mandetta

Imagem: Rádio Itaiaia.

Era pra esse senhor Mandetta, sair imediatamente defendendo a interrupção deste governo. Era pra esse senhor dizer claramente que este governo ia custar vidas! Era pra essa senhora, Hajjar, na primeira entrevista, colocar seu posicionamento pelo impedimento, pois que é impossível uma conversa racional. Veja, esta senhora foi destratada, humilhada. Mas o que eles fazem? Prestam um favor ao governo. Operam a racionalização de um discurso que o ele não tem como operar.

É coisa de quem quer vender livros, ou currículos. De quem quer faturar milhões com publicidade da própria empresa. Ou ainda, de quem quer ser presidente. Ora, se todo mundo que faz o básico se candidatar em 2022, constará entre os elegíveis o técnico do Palmeiras. Ou mesmo o capitão do time.

E o Lula? Fomos obrigados a engolir o Mensalão, os esquemas de corrupção na Petrobras, as ilicitudes com as Empreiteiras, desvio de dinheiro público pra tudo quanto é canto, triplex, sítio em atibaia. Engolimos neoliberalismo, engolimos Dilma Rousseff. E agora este senhor aparece, com apoio de FHC e Delfim Netto, com todo seu capital político e seu poder de influência, querendo que a gente engula uma frente única contra o governo. Mas para 2022! Mas em torno de seu próprio nome! Ou seja, nada de impeachment! Este senhor não percebe que até lá não vai ter gente viva pra votar nele? É claro que percebe. Mas pra ele, convém ser presidente de novo.

Lula

Imagem: Globo.

Agora, sim, compreendo que um impeachment significaria um descrédito total das instituições políticas brasileiras. Estamos sem saber o que fazer. Quase a alcançar trezentos mil mortos. Também compreendo que não é questão de ser de esquerda. Certamente, se o governo se colocasse a favor do lockdown, a esquerda iria defender a ideia de que os trabalhadores não podem morrer de fome. Impeachment, não impeachment; esquerda, direita… É do jogo político. Mas este jogo agora conta um cenário crítico. Estão morrendo gente poderosa, que não pensaríamos ter que disputar vaga em UTI. Imagina o que será de nós! Precocemente, foi dada a largada para a corrida presidencial de 2022. Mas desta vez, seguindo os protocolos de segurança ao covid 19 a força, a corrida não tem público.